A primeira evidência do antissocialismo de Hitler já havia aparecido depois de algumas semanas após se tornar chanceler, quando começou a perseguir comunistas e socialistas. Alguns dizem que isso não implica em antissocialismo, pois perseguir outros socialistas e comunistas era uma prática recorrente em ditaduras comunistas.
No entanto, isso não explica o por que que a política de Hitler era absolutamente definida como uma guerra ao bolchevismo - o que o fez ganhar apoio de conservadores, classes médias e burgueses industriais.
O argumento acima é do historiador, jornalista e blogueiro do Jornal Telegraph, Tim Stanley. Ele é especialista em História dos Estados Unidos e contribui para a revista History Today. Cansado de ler por aí que Hitler era um socialista, ele resolveu postar em seu blog um artigo onde defende que Hitler não era um socialista.
Segundo Stanley, Hitler não pode ser um socialista, pois ofereceu uma aliança entre o capital e o trabalho na forma de corporativismo, com o propósito de evitar a luta de classes. Ideal completamente oposto ao Socialismo, já que o mesmo é definido pela luta de classes onde há uma vitória absoluta do proletariado contra as classes dominantes.
"O marxismo é definido pela luta de classes, e o socialismo é realizado com a vitória total do proletariado sobre as classes dominantes. Por outro lado, Hitler ofereceu uma aliança entre o trabalho e o capital, na forma de corporativismo - com o propósito expresso de prevenir a guerra de classes."
Ele lembra que poucos na época interpretavam mesmo o Terceiro Reich como uma sociedade socialista, e que a aliança de capital e trabalho feita por Hitler deixou evidente para os marxistas que esse suposto socialismo era na verdade uma fraude, pois se tratava de uma etapa de desenvolvimento capitalista.
"Marxistas consideraram isso [aliança de capital e trabalho de Hitler] como uma das etapas do desenvolvimento capitalista e poucos no momento legitimamente interpretaram o Terceiro Reich como uma sociedade socialista".
Stanley dá um exemplo de socialista que se iludiu com Hitler: o romancista George Bernard Shaw. "O radical George Bernard Shaw, por exemplo, certamente expressou simpatia por Hitler quando ele chegou ao poder, mas descreveu mais tarde o socialismo do ditador como fraudulenta - como uma maneira de comprar uma revolução inevitável."
Stanley também lembra que apesar dos nazistas terem começado uma política de nacionalização da República de Weimar, também fizeram privatizações. E que a política estatal de Hitler favoreceu à burguesia industrial já que esmagou sindicatos e "enfatizou o pleno emprego sobre a elevação salarial".
Ele analisa que a socialização da economia feita pelos nazistas não teve como objetivo construir o socialismo.
"É verdade que a economia foi socializada na última parte da década de 1930, mas não por causa da construção do socialismo. Era para se preparar para a guerra. A Política vinha antes da economia no estado fascista na medida em que é difícil conceber a Hitler um pensamento econômico coerente em tudo. Ele teria feito qualquer coisa para ajudar a sua conquista da Europa Oriental, e uma economia de comando provou ser melhor para a construção de tanques do que o livre mercado."
Stanley conclui que o Terceiro Reich era uma sociedade capitalista que havia abraçado alguns aspectos do socialismo com o objetivo de defender o interesse dos capitalistas.
Mas os argumentos do historiador não param por aí. Ele dá mais uma evidência de que Hitler não era socialista: seu racismo. "Outra relação fundamental que Hitler não era socialista era o seu racismo. Mais uma vez, o marxismo define a história como uma luta de classes. Hitler via isso como um conflito racial - e bolchevismo como uma construção judaica."
Ele analisa que os objetivos nazistas eram completamente opostos aos objetivos do socialismo - visto que se baseia em hierarquia racial, ao contrário do igualitarismo socialista - e que Hitler apenas usou uma economia socialista para seguir com sua agenda, mas isso não significa que o mesmo era socialista, já que a política para Hitler era mais importante do que uma teoria econômica consistente.
Para evidenciar isso, Stanley explica que as fazendas alemãs não foram coletivizadas como exige o marxismo, pelo contrário, foram protegidas da concorrência e o fazendeiro tido com o ideal ariano.
Stanley também explica que a "agricultura caiu em importância na medida em que a guerra se aproximava e industrialização teve prioridade. Política econômica subia e descia do que poderia ser grosseiramente chamado de 'esquerda para a direita'". Ele ainda argumenta que Hitler tinha uma obsessão em derrotar o "comunismo judeu".
O argumento de que Hitler era socialista porque se chamava de "socialista" é falho, segundo Stanley. Ele explica que se chamar de "socialista" estava em moda na década de 1920 e 1930. "O socialismo era a onda do futuro e teve um efeito enorme sobre o discurso político".
Stanley analisa que muitos usam o termo "marxismo" sem nem saber exatamente do que se trata. Muitos governos ajudam os pobres, gerem a economia e elevam os padrões de vida, mas não podem ser classificados como "marxistas", segundo Stanley.
"América teve seu New Deal; Suécia, sua social-democracia. Os japoneses militarizaram todo o seu país, mas fê-lo para expandir o domínio de um imperador que eles pensavam que era um deus vivo, o que é dificilmente um comportamento comunista. Na Grã-Bretanha, o governo de Stanley Baldwin gastou milhões em um programa de construção de casas e configurar a BBC estatal. Mas Stanley não era Stalin."
Stanley explica que é quase impossível equivaler a política de Hitler com a política moderna.
"É quase impossível para o leitor informado de encontrar qualquer equivalência entre Hitler e a política moderna, mas muitas pessoas tentam muitas vezes para fazê-lo. Por exemplo, sempre que os ateus insistem que ele foi um exemplo de chauvinismo católica/cristão se esquecem de seu intenso ódio ao cristianismo. E sempre que os conservadores religiosos tentam dizer que ele era ateu, eles esquecem o quanto ele estava feliz ao pegar emprestado a linguagem cristã ou para trabalhar com os colaboradores clericais".
Segundo Stanley, dizer que Hitler desarmou a Alemanha é uma fraude histórica. "Ele não, como alguns libertários dizem, tirou armas da Alemanha. Essa política começou sob Weimar e, se alguma coisa ocorreu, foi que Hitler rearmou a população, armando seus capangas, ampliando o exército para invadir a Polônia. Hitler gostava de armas."
Roni Kurono