domingo, 6 de novembro de 2016

HAITI: UM MÊS DEPOIS DO FURACÃO MATTHEW

Moradores fazem fila em Paillant
Nesta semana, um navio carregado com 2,5 mil toneladas de alimentos e materiais de construção aportou em Les Cayes, uma das cidades do Haiti mais castigadas pela passagem do furacão Matthew um mês atrás.
Mas o que seria uma boa notícia se transformou em pesadelo: autoridades locais ignoraram recomendação da ONU de que não havia segurança suficiente para descarregar. Em pouco tempo, a distribuição de ajuda se transformou em confronto entre forças de segurança haitianas e uma população revoltada.
Um jovem de 14 anos foi morto a tiros na confusão e uma multidão começou a carregar seu corpo pelas ruas da cidade. Em seguida, houve saques e confrontos entre homens armados e seguranças privados de estabelecimentos locais, segundo afirmou à BBC Brasil o comandante das forças da ONU no Haiti, o general brasileiro Ajax Porto Pinheiro.
Esse foi um dos incidentes de segurança mais graves desde a passagem do furacão, em 4 de outubro. Ainda há 140 mil desabrigados no país, e 1,4 milhão de pessoas precisam de assistência humanitária, segundo estimativa das Nações Unidas.
"Nós explicamos às autoridades de Les Cayes que não havia depósito para armazenar os mantimentos do navio, nem pessoal para proteger a operação ou distribuir a ajuda. Precisaríamos fazer no mínimo 500 viagens de caminhão. Então sugerimos que o navio fosse (à capital) Porto Príncipe onde há mais estrutura, e descarregasse lá", contou Pinheiro.
General Ajax Pinheiro (centro)
Mas a Prefeitura de Les Cayes decidiu descarregar o material por conta própria em uma pequena base local da Guarda Costeira haitiana.
"O navio estava sendo descarregado no porto, mas algo saiu errado nas docas e um adolescente caiu baleado", disse o prefeito de Les Cayes, Gabriel Fortuné, ao site de notícias local Haiti Libre. Ele disse que o caso está sendo investigado e pediu calma à população.
Segundo o general brasileiro, o navio partiu e a carga ainda não distribuída permaneceu à vista da população, o que está elevando a tensão - mas como o governo do Haiti se encarregou da operação, os militares do Brasil não estão se envolvendo diretamente na questão.
Pinheiro afirmou que um fator que vem dificultando a resposta aos estragos do furacão é que muitas organizações não governamentais e entidades de assistência estão agindo por conta própria, sem coordenar esforços com a OCHA, escritório de coordenação de ajuda humanitária da ONU.
"A tensão já caiu bastante desde o furacão, mas ainda está ocorrendo um saque (de comboio de ajuda humanitária) a cada dois dias. As organizações abandonam as cargas quando começa o saque."
Desde o furacão, as forças da ONU já atuaram em ao menos dois incidentes do tipo, usando munição não letal e gás lacrimogênio.
Um deles ocorreu quando Ajax e suas tropas supervisionavam o descarregamento de mantimentos de um navio próximo à cidade de Dame Marie. Segundo ele, três barcos pequenos haviam sido contratados para pegar os mantimentos no navio e os levar até a praia.
Contudo, um dos barqueiros locais desembarcou comida muito próximo de uma multidão - o que deu início à confusão. "Nossos militares usaram balas de borracha para dispersar a multidão, mas um policial do Haiti usou uma espingarda com munição real", disse.
O agente local acabou baleando uma jovem de 16 anos, que, mesmo socorrida pelos brasileiros, morreu no hospital.
A BBC Brasil conversou com duas das maiores organizações humanitárias presentes no Haiti: os Médicos Sem Fronteiras e a Cruz Vermelha.
Ambas operam de forma integrada com outras organizações para poder atender mais pessoas, mas não utilizam a escolta armada oferecida pelas Nações Unidas para estabelecer uma relação de maior confiança com a população.
A Cruz Vermelha, por exemplo, opera com representantes das comunidades e usa moradores voluntários para organizar a distribuição de ajuda - o que tem evitado conflitos até agora, segundo Nicole Robicheau, porta-voz da organização.

Desafio logístico

Os Médicos Sem Fronteiras e a Cruz Vermelha disseram à reportagem que um dos maiores desafios um mês após a tragédia tem sido levar ajuda constante para centenas de pequenos vilarejos espalhados pelas regiões montanhosas e de difícil acesso do sul do Haiti.
Esse é o caso de Paillant, que tem 30 mil habitantes. Segundo o prefeito da cidade, Jude Brice, os moradores até avistam comboios de caminhões carregados de mantimentos em uma estrada próxima, mas a maioria dos veículos passa direto, rumo a cidades mais castigadas pela tempestade.
Apenas um ou outro entram ali para distribuir comida e cobertores.
"Estamos pedindo materiais, como cimento, ferro e telhas para reconstruir as casas totalmente destruídas. Também precisamos de sementes para plantar feijão, milho e couve, pois as plantações foram arrasadas. Estamos procurando financiamento", disse.
Chegar a localidades como Paillant é um desafio - algumas só são atingidas de moto ou a pé.
"Ainda há muitas pessoas vivendo em condições desafiadoras, principalmente nas áreas mais remotas. Tem sido um grande desafio chegar a essas comunidades", contou Nicole Robicheau, da Cruz Vermelha.
Mas o que mais assusta as organizações humanitárias é a mesma doença que já castigou o Haiti após o terremoto de 2010: a cólera. Desde a passagem do furacão, 3,7 mil casos de possível contaminação foram reportados às autoridades.
Menina pega água em poço em Couteaux
Segundo Paul Brockman, representante dos Médicos Sem Fronteiras, a falta de dados impede que se diga com certeza se o Haiti está novamente à beira de uma nova epidemia de grandes proporções.
"Em outubro, novembro e dezembro a cólera sempre volta, por causa da estação de chuvas. Essa doença pode aparecer em áreas remotas e se espalhar muito rapidamente. Por isso há o risco de uma nova epidemia. As pessoas podem não saber que estão contaminadas", disse à BBC Brasil.
Especialistas afirmam acreditar que tropas do Nepal que faziam parte da força de paz da ONU acidentalmente levaram o cólera do sul da Ásia ao Haiti - onde uma epidemia da doença matou 9 mil pessoas em 2010.
Em localidades mais afetadas pelo furacão, fontes de água potável podem ter sido contaminadas pela bactéria quando tiveram contato com água do mar ou de enxurrada - afetada por dejetos de latrinas comuns na área rural.
Um exemplo de localidade que preocupa a ONG é o vilarejo de Barradens, que tem 6 mil moradores e fica na província de Nippes. "A vila fica nas montanhas e ficou totalmente submersa após 24 horas de chuvas. A água chegou a três metros de altura", descreveu Brockman.
"O centro de tratamento de cólera que havia na região foi varrido pela enxurrada", acrescentou ele. O local agora está sendo atendido por uma clínica móvel dos Médicos Sem Fronteiras.

Resposta

A estratégia de montar centros de atendimento médico móveis em diversas regiões também está sendo adotada pela Cruz Vermelha.
Segundo Robiechau, a entidade também está distribuindo kits de reconstrução, que consistem em duas chapas de cobertura, para servir de telhado, uma serra, um martelo e pregos, e treinando os moradores para reconstruírem sus habitações de forma segura.
Também estão sendo distribuídos kits de cozinha, com panelas e talheres para a preparação de alimentos doados por organizações não governamentais e pelo Programa Mundial de Alimentos.
Prefeito de Paillant organiza distribuição de alimentos
Esse material ainda não chegou a Paillant. "Muitas vezes as pessoas até recebem a comida, mas como suas casas foram muito danificadas, elas não tem como preparar o alimento", disse Jude Brice, um dos prefeitos da cidade.
A Cruz Vermelha também levou ao país uma equipe especializada em purificação de água e está distribuindo tabletes com uma substância química que, quando misturada à água usada para consumo, mata a bactéria da cólera.
"Entendo a frustração dessas pessoas (quando a ajuda humanitária demora a chegar). É difícil atender a todos. Por enquanto estamos nos concentrando nos mais vulneráveis, mas sei que é difícil ver aqueles grandes caminhões carregados de ajuda só passando. Chegar a todos os lugares está sendo um desafio logístico", lamentou Robicheau.

Eleições

Militares da ONU
Enquanto organizações humanitárias, militares da ONU e autoridades locais se esforçam para levar ajuda às comunidades que aos poucos tentam se recuperar do furacão, um novo desafio se aproxima: a realização das eleições gerais que deveriam ter ocorrido no ano passado, mas foram adiadas diversas vezes devido a crises políticas, ondas de violência e, por último, Matthew.
A nova data é o próximo dia 20 de novembro.
Segundo Ajax Pinheiro, 260 locais de votação foram destruídos pelo furacão. "Temos 1,5 mil barracas de 3 por 6 metros. Em alguns locais onde escolas foram destruídas, a votação vai ser nessas barracas."
A operação de socorro às vítimas do furacão será diminuída a partir deste sábado para que as forças da ONU comecem a se dedicar à segurança do pleito, contou o general. Mesmo assim, 160 militares brasileiros e quatro blindados permanecerão no sul do país para atender as vítimas do furacão.
Para o general, há ao menos um aspecto positivo: as diversas forças políticas que disputam o pleito parecem ter entendido que o país enfrenta uma nova catástrofe e reduziram o número de manifestações e denúncias contra seus oponentes - o que diminuiu a tensão política.
No início do ano, a eleição foi cancelada depois que diversos centros de votação foram incendiados ou atacados a tiros. Pinheiro disse ter esperança de que esse tipo de ocorrência não se repita no dia 20.

FONTE: BBC BRASIL

PADILHA: A REFORMA DA PREVIDÊNCIA VALE POR 10 ANOS, MAS É POSSÍVEL

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A reforma da Previdência que o governo vai enviar ao Congresso até o final deste ano --antes do recesso parlamentar-- tem um prazo de validade de 10 anos, mas é a possível neste momento, admitiu à Reuters nesta sexta-feira o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha.
"Com todo o esforço projetado ainda ficaremos longe da sustentabilidade e da autossuficiência do sistema. O déficit vai permanecer. Daí porque tenho dito que não estamos propondo a reforma necessária, a que garantiria a sustentabilidade, mas aquela que os assegurados possam suportar, a reforma possível", disse o ministro por meio de mensagens de texto.
De acordo com o ministro. a reforma proposta pelo governo não irá zerar o déficit atual, mas vai ajudar que suba apenas moderadamente até 2025. A partir daí, teve voltar a subir consistentemente pelo aumento da expectativa do brasileiro.
"O Brasil terá que, até 2025, encontrar outras fontes para o financiamento da Previdência Social, sob pena de ela não ser mais sustentável com base no atual sistema de custeio, que é de contribuições mais o déficit coberto pelo Orçamento da União", afirmou.
Entre as medidas propostas pelo governo estão o estabelecimento de uma idade mínima para a aposentadoria, de 65 anos, válido para o setor público e o privado, homens e mulheres. Antes dessa idade, não será possível se aposentar, mesmo com desconto na aposentadoria, como hoje acontece com o fator previdenciário.
O tempo mínimo de contribuição para aposentadoria deve subir dos atuais 15 para 25 anos. O governo também pretende criar alguma tipo de contribuição para os aposentados rurais, hoje quase inexistente.
Ainda assim, com mudanças que afetarão profundamente o atual sistema, diz Padilha, a Previdência ainda não será sustentável e terá que ser novamente mudada em 10 anos.
Nos últimos 20 anos, desde o governo de Fernando Henrique Cardoso, três outras mudanças já foram feitas. Entre elas, a que criou o fator previdenciário e passou a reduzir a aposentadoria de quem se aposenta antes dos 60 anos, e a que retirou o direito dos servidores públicos federais de se aposentarem com salário integral bancado pelo governo.
Padilha afirma que a reforma da Previdência é "para a eternidade", mas não há como fazer agora mudanças ainda mais radicais.
"Neste momento a capacidade contributiva dos brasileiros está próxima de seu limite. Não vemos condições materiais e econômicas, hoje, dos contribuintes suportarem o déficit existente e o projetado na Previdência Social", afirmou.
"Estamos projetando uma reforma profunda que controle o déficit da Previdência no limite do possível, sem pretender fazer aquilo que não possa ser suportado pelos contribuintes."
PRAZOS
Mudanças ainda mais radicais esbarram também na resistência do Congresso em bancar essas medidas, apesar da folgada base parlamentar que o governo possui.
Projetada inicialmente para ser enviada ao Congresso 30 dias depois de Michel Temer tomar posse como presidente interino, a previsão mais firme feita por Padilha agora é de que ela irá "antes do recesso parlamentar", ou seja, final de dezembro.
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As primeiras dificuldades foram nas negociações com centrais sindicais --que só aceitavam as mudanças para quem está entrando no mercado de trabalho-- e com os empresários, que pregavam um texto ainda mais radical.
A dificuldade de fechar o texto somou-se à má vontade dos parlamentares em começar a discutir algo tão polêmico em meio à campanha das eleições municipais. Além disso, o próprio Palácio do Planalto optou por aprovar primeiro a Proposta de Emenda à Constituição que cria o teto de gastos para a União --aprovada há pouco mais de uma semana-- e não fazer os parlamentares terem de lidar com dois temas polêmicos ao mesmo tempo.

De acordo com Padilha, o texto agora está pronto. No entanto, o governo espera ainda alterações que os governadores querem incluir --como o aumento da contribuição dos servidores públicos-- mas que ainda não apresentaram a Temer. Depois disso, o presidente ainda apresentará o texto às centrais, confederações da indústria e à base parlamentar.

FONTE: REUTERS BRASIL

quarta-feira, 2 de novembro de 2016

PACOTE ANTICORRUPÇÃO: LIBERDADE À ANISTIA E CAIXA 2

BRASÍLIA - O pacote de medidas de combate à corrupção que será votado na Câmara vai prever a criminalização do caixa 2 em campanhas eleitorais, afirmou nesta terça-feira, 1º, o relator da proposta, deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS). A medida, porém, deve abrir a possibilidade para uma anistia a políticos, empresas e partidos que praticaram o crime antes da aprovação da lei, a qual deputados tentaram votar de forma separada em setembro. O parlamentar também comentou outra mudança no texto, que não trará mais a possibilidade do uso de provas obtidas de forma ilícita em processos judiciais. 
Deputado Onyx Lorenzoni (DEM - RS) durante reunião da comissão especial que analisa medidas anticorrupçãoDeputado Onyx Lorenzoni (DEM - RS) durante reunião da comissão especial que analisa medidas anticorrupção.
Sobre o caixa 2, o relator afirmou que o texto vai prever pena de 2 a 5 anos de prisão para quem cometer o crime de caixa 2, desde que a origem do dinheiro doado seja "lícita". "Receber, manter, movimentar ou utilizar o candidato, o dirigente e o integrante de órgão de direção de partido político ou coligação, recursos, valores, bens ou serviços estimáveis em dinheiro, de origem lícita, paralelamente à contabilidade exigida pela legislação", diz o texto ao qual o Broadcast Políticoteve acesso.
Caso os recursos usados no caixa 2 tenham origem ilegal, Lorenzoni afirmou que os políticos e partidos deverão ser enquadrados na lei de lavagem de dinheiro, cuja pena é de 3 a 10 anos de detenção. Segundo ele, o pacote anticorrupção vai prever uma mudança nessa lei para estabelecer que ela também se aplique para "efeitos eleitorais e partidários". Inicialmente, as origens lícitas e ilícitas constariam na tipificação de caixa 2, mas foram separadas a pedido de advogados.
Para o deputado Miro Teixeira (Rede-RJ), que exerce o 11º mandato na Câmara, o texto vai abrir espaço para um autoanistia por "via transversal". Ele lembra que políticos, empresas e partidos que forem condenados após a aprovação da lei tentarão a anistia na Justiça com o argumento constitucional de que nenhuma lei pode retroagir para prejudicar pessoas ou empresas. Além disso, dirão que, se foi tipificado, é porque não era considerado crime antes.
Na avaliação de Teixeira, não havia necessidade de tipificar o crime. "Caixa 2 é um apelido de um mundo de infrações financeiras", afirmou, lembrando que já há um conjunto de artigos que condenam a prática, embora a palavra não esteja explicitada. Um dos exemplos citados pelo parlamentar é o artigo 350 do Código Eleitoral, que prevê pena de até 5 anos de prisão para quem omitir ou inserir declaração falsa para fins eleitorais. 
"Esse artigo existe há mais de uma década. Quantas condenações teve com base nele? Muito poucas", rebateu Lorenzonni. O relator também rechaça a tese de que o pacote vai promover uma anistia ao abrir margem para que políticos e empresas argumentem que a lei não pode retroagir para prejudicá-los. "Isso não é um argumento. É a Constituição brasileira", diz. Para ele, a tipificação do crime vai ajudar a acabar com a "cultura" do caixa 2 no Brasil.
Provas ilícitas. O relator também retirou da proposta a possibilidade do uso de provas obtidas de forma ilícita em processos judiciais. A possibilidade tinha sido incluída pelo Ministério Público Federal (MPF) no texto original do pacote anticorrupção, enviado ao Congresso Nacional. A ideia era mudar o Código de Processo Penal para que as provas obtidas ilegalmente pudessem ser usadas nos processos quando "os benefícios decorrentes do aproveitamento forem maiores do que o potencial preventivo".
Em seu parecer, Lorenzoni disse que também alterou o trecho que trata do chamado teste de integridade, que consiste em uma simulação de situações sem o conhecimento dos agentes públicos. Esses exames teriam o objetivo de analisar a conduta moral e a predisposição de cometer atos ilegais dos servidores, proposta também incluída pelo MPF.
O relator afirmou que o novo texto vai prever que o teste somente tenha efeitos administrativos. Pela proposta original, ele também poderia ser usado para instruir processos criminais. Além disso, a mudança estabelecerá que, para o teste ser realizado, todos os servidores do setor testado devam anteriormente passar por treinamento, condição que não estava prevista anteriormente.
O deputado disse ainda que o texto não vai mais trazer mudanças na forma de concessão de habeas corpus, instrumento jurídico usado para pedir a liberdade de presos. A proposta original enviada pelo MPF previa a restrição da concessão de habeas corpus. 
Votação. Lorenzoni comentou também que tentará ler o parecer do pacote na próxima semana, na comissão especial na Câmara, para que possa ser votado no colegiado na semana seguinte e pelo plenário na semana posterior, o que seria por volta do dia 21 de novembro. Segundo Miro, há uma "hipótese" de tentar votar o pacote simbolicamente no plenário da Casa, mas ele vai pedir votação nominal, o que o relator concorda. Da Câmara, o pacote seguirá para o Senado.
Em 19 de setembro deste ano, lideranças de diversos partidos, como PSDB, PP, PT e PCdoB, tentaram votar no plenário da Câmara um projeto que previa a criminalização do caixa 2 e a anistia para quem já tivesse adotado a prática antes. Após protestos de deputados do PSOL e da Rede, porém, o 1º secretário da Casa, deputado Beto Mansur (PRB-SP), que presidia a sessão, retirou a matéria da pauta. 
FONTE: O ESTADÃO

terça-feira, 1 de novembro de 2016

CHERNOBYL: 30 ANOS DO PIOR ACIDENTE NUCLEAR DA HISTÓRIA

Jerzy Wierzbicki
Trinta anos depois da explosão de um de seus reatores, em 26 de abril de 1986, uma zona de exclusão ainda vigora ao redor da usina nuclear de Chernobyl, na Ucrânia - então, uma das repúblicas da antiga União Soviética.
O fotógrafo polonês Jerzy Wierzbicki visitou o local, acompanhado por dois guias - ambos antigos empregados da usina.
A explosão causou um incêndio que durou 10 dias e lançou imensas quantidades de material radioativo no meio ambiente da região, bem como por extensas áreas da Europa, especialmente Ucrânia, Belarus e Rússia. A área em volta da usina foi evacuada, e a zona de exclusão, que se estende por um raio de 30 km, é patrulhada por policiais armados com fuzis AK-47.
Na verdade, a região nunca foi totalmente evacuada. As regras de exclusão variam de acordo com os níveis de radiação. A usina, fechada em 2000, não tem residentes oficiais. Trabalhadores envolvidos na desativação da usina e na descontaminação da área têm permissão para morar na cidade de Chernobyl, a uma distância de 15 km da usina, mas ainda assim há um limite para o número de semanas consecutivas que podem passar no local.
Um pouco mais longe, Ivan e Maria Semeniuk estão jantando em sua casa, no vilarejo de Parishev, a 20 km da usina. Quando houve o acidente, eles foram evacuados, e as autoridades disseram que poderiam voltar três dias depois.
Jerzy Wierzbicki
Mas o casal desconfiou do prazo. Colocou alguns pertences em seu velho carro e dirigiu para outro vilarejo, Borodianka. Lá, foram lavados com água fria pela polícia militar e Ivan foi informado que passaria a trabalhar como operário na construção civil.
Dois anos mais tarde, ele e Maria voltaram a Parishev e lá ficaram desde então, apesar de estarem dentro da zona de exclusão. O vilarejo e a floresta em volta têm alguns outros moradores, mas a área é majoritariamente vazia.
Visitantes à zona de exclusão podem medir mudanças nos níveis de radiação com um dosímetro. Na casa de Ivan e Maria, 30 anos depois, a leitura é bem baixa, aquém do limite da leitura de exposição a radiação considerada perigosa.
A média dos níveis de radiação na zona de exclusão varia entre 0,9 microsieverts por hora e 2,5 microsieverts nas áreas mais próximas à usina. Em áreas onde grandes leituras são registradas, como os 214,2 microsieverts da foto acima, é perigoso mesmo permanecer no local por alguns minutos.
Jerzy Wierzbicki
O dosímetro registrou essa leitura perto da cidade de Pripyat, hoje abandonada, próximo a equipamento usado nas operações de emergência em 1986.
Entre os detritos estão a maioria dos veículos e máquinas que participaram dos esforços de contenção do acidente nuclear no Reator 4.
Pripyat é uma cidade fantasma, a 4 km da usina. Construída em 1970 especialmente para funcionários e suas famílias, ainda nos tempos em que a Ucrânia ainda era parte da extinta União Soviética. Tinha capacidade para 50 mil pessoas. Os residentes foram evacuados em uma operação maciça, 36 horas depois da explosão.
Jerzy Wierzbicki
O teto da casamata do Reator 4 explodiu por volta de 01h30 da manhã em 26 de abril de 1986 e Pripyat permanece do jeito que estava. O consultório médico, no Centro Médico 26, completo com vidros de remédios e vacinas, está deserto.
No jardim de infância Pequeno Urso, carteiras e cadeiras estão amontoadas e brinquedos abandonados jazem cobertos de poeira.
Antes da evacuação, residentes não tinham sido informados do desastre nuclear. No total, 116 mil pessoas tiveram que deixar Pripyat às pressas.
No chão de um dos apartamentos há uma foto em preto e branco do ex-líder soviético Vladimir Lênin. É outro sinal de um mundo que desapareceu décadas atrás.
Jerzy Wierzbicki
Pripyat era uma típica cidade soviética, repleta de edifícios de concreto uniformes, pouca vegetação e estradas ruins. A foto acima é a visão do 15º andar do mais alto conjunto habitacional.
Sem pessoas, a floresta vizinha gradativamente invadiu as ruas e o espaço entre os edifícios. Os únicos moradores agora são animais selvagens, cujos números cresceram dramaticamente. Observadores falam do retorno de espécies que eram consideradas extintas.
Jerzy Wierzbicki
Uma grande instalação militar foi construída na região, como parte dos esforços de proteção da usina. Seu símbolo é a antena de radar Duga-3. Mas a base foi fechada três anos após o acidente.
Jerzy Wierzbicki
Coletar objetos na zona de exclusão é expressamente proibido, em especial as máscaras de gás usadas pelos trabalhadores conhecidos como liquidatários - que trabalharam nas operações de resgate. Estima-se que 600 mil pessoas foram recrutadas para ajudar a apagar o incêndio e limpar a área.
Jerzy Wierzbicki
De acordo com um relatório da Organização Mundial de Saúde publicado em 2005, 4 mil pessoas morreram em decorrência do acidente. O governo ucraniano estima que apenas 5% dos membros de equipes de resgate e limpeza ainda vivos estão saudáveis.
Pessoas trabalhando na usina precisam ser checadas regularmente em estações de medição de radiação. E não têm permissão para por coisa alguma no chão.
O Reator Quatro encontra-se coberto por um "sarcófago" feito de concreto e aço, que se encontra em estado ruim. Um consórcio internacional espera substituí-lo no ano que vem.
Quando o novo domo, orçado em US$ 2,2 bilhões, for instalado, terão início os trabalhos de remoção da antiga estrutura e de entulho.

FONTE: BBC BRASIL

sexta-feira, 28 de outubro de 2016

NATAL TEM MAIOR AUMENTO DE HOMICÍDIOS ENTRE AS CAPITAIS BRASILEIRAS

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Natal foi a cidade que registrou a maior elevação no número de mortes violentas em todo o Brasil. De acordo com o 10º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, o número de assassinatos a cada grupo de 100 mil habitantes subiu na capital potiguar de 39,8 para 78,4, em comparação com os anos de 2014 e 2015. No Rio Grande do Norte, a taxa de Mortes Violentas Intencionais (MVI) subiu de 34,9, em 2014 para 48,6 em 2015, sendo o terceiro estado mais violento do país. À frente do RN estão Sergipe, com taxa de 57,3, e Alagoas, com 50,8 mortes para cada grupo de 100 mil. Em números absolutos, o RN saltou de 1.190 mortes em 2014 para 1.672 no ano passado. Houve também um aumento no número de latrocínio, que é o roubo seguido de morte. Em 2014, o estado registrou 20 mortes com essa motivação, número que se elevou para 51 em 2015. O diretor-presidente do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Renato Sérgio de Lima, responsável pelo estudo, disse que essa elevação é reflexo da ausência de programas para reduzir homicídios. “Os estados em que as mortes crescem, com exceção de Pernambuco, são os que não têm programa de redução de homicídios. Você percebe que quando há política pública, quando você prioriza o problema, são conseguidos alguns resultados positivos”, disse. As unidades da Federação que mais aumentaram o número de mortes violentas foram o Rio Grande do Norte (elevação de 39,1%), Amazonas (19,6%), e Sergipe (18,2%). Os que mais diminuíram foram Alagoas (queda de 20,8%), o Distrito Federal (-13%), e o Rio de Janeiro (-12,9%). Mortes no Brasil O Brasil registrou mais mortes violentas de 2011 a 2015 do que a Síria, país em guerra, em igual período. Foram 278.839 ocorrências de homicídio doloso, latrocínio, lesão corporal seguida de morte e mortes decorrentes de intervenção policial no Brasil, de janeiro de 2011 a dezembro de 2015, frente a 256.124 mortes violentas na Síria, entre março de 2011 a dezembro de 2015, de acordo com o Observatório de Direitos Humanos da Síria. Apenas em 2015, foram mortos violentamente e intencionalmente 58.383 brasileiros, resultado que representa uma pessoa assassinada no país a cada 9 minutos, ou cerca de 160 mortos por dia. Foram 28,6 pessoas vítimas a cada grupo de 100 mil brasileiros. No entanto, em comparação a 2014 (59.086), o número de mortes violentas sofreu redução de 1,2%. “A retração de 1,2% não deixa de ser uma retração, mas em um patamar muito elevado, é uma oscilação natural, de um número tão elevado assim”, ressaltou Lima. Das 58.383 mortes violentas no Brasil em 2015, 52.570 foram causadas por homicídios (queda de 1,7% em relação a 2014); 2.307 por latrocínios (aumento de 7,8%); 761 por lesão corporal seguida de morte (diminuição de 20,2%) e 3.345 por intervenção policial (elevação de 6,3%).

FONTE: PORTAL NOMINUTO

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