Escritor e conferencista, as palavras são a matéria-prima de minha vida. Como observou Machado de Assis, “as palavras têm sexo. Amam-se uma às outras. Casam-se.” E acrescento: têm ideologia, não são neutras.
Há palavras e expressões que, com o tempo, desabam do paraíso ao inferno. São rejeitadas pelo crivo implacável do politicamente incorreto. Porque estão impregnadas de preconceitos.
Na minha infância, chamava-se aleijado quem tivesse uma deficiência física que lhe dificultasse a mobilidade. Depois, deficiente físico. Em seguida, portador de deficiência física. Mais tarde, pessoa portadora de necessidades especiais.
Ora, toda a terminologia do parágrafo acima recai sobre a caracterização do indivíduo, quando deveria caracterizar a sociedade. Ela é a deficiente, pois torna esse indivíduo um ser com dificuldades de interação e integração, em especial quando lhe faltam equipamentos sociais que lhe facilitem atividades e mobilidade.
Cadeirantes e caminhantes (outras palavras equivocadas!) são, perante a lei, iguais em direitos. Há, porém, uma diferença. Por ser portador de uma anomalia física, cadeirantes possuem também direitos especiais (rampa de acesso, estacionamento, toalete amplo etc.) que eu não possuo. Ou melhor, possuo enquanto idoso.
Não seria mais adequado deslocar a terminologia da limitação física para a sociedade? Ela, sim, é que transforma a diferença em restrição e preconceito. Sugiro, portanto, que sejam chamadas de pessoas portadoras de direitos especiais. Como o são também idosos, indígenas, LGBTod@s etc.
Quem sabe, assim, a sociedade deixe de encará-las como problema, quando o problema reside na falta de equipamentos sociais e garantias de pleno usufruto de seus direitos, os universais e os especiais.
Frei Betto
OPINIÃO:
Um certo dia, em meio à campanha eleitoral, uma prima da minha esposa, que até a chamava "carinhosamente" de "ursinha", fez uma colocação abominável. Em suas palavras ela caracterizou o benefício social que minha consorte recebe como sendo em função de ser "inválida", tudo pelo fato de Héllen (minha esposa) portar uma nefropatia congênita e aguda, e necessitar por 3 vezes na semana de hemodiálise, e juridicamente possuir direito ao BPC - Benefício de Prestação Continuada do INSS. Esta situação muito me irou. E, como não sou de permitir injustiças, retruquei com o título "INVALIDEZ MORAL". Com certeza, a maior invalidez, a maior deficiência não é física, tampouco a incapacidade mental, outrossim, é a moral, social, ideológica e ética, que macula não o esteriótipo, mas o caráter! A pior deficiência é a moral. Pois não existe prótese para caráter amputado! Aprendi um adágio popular e bem aplicado nessa circunstância: "Na boca de quem não presta, quem é bom, não vale nada!" Até...
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