quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018

INTERVENÇÃO NO RIO: A VISÃO DA MÍDIA ALEMÃ

A mídia alemã nessa semana tem abordado sobre a intervenção no Rio de Janeiro. Os alemães não pouparam críticas .


Frankfurter Allgemeine Zeitung – Tanques rolam pelas ruas do Rio, 19/02/2018

Lá estão, de novo, os tanques nas ruas do Rio de Janeiro. Assim como na Copa do Mundo e nos Jogos Olímpicos, as Forças Armadas brasileiras estão ajudando as forças de segurança a controlar a situação na bela cidade do Pão de Açúcar. Mas, desta vez, os militares vieram para ficar. E vão assumir o comando.

O presidente Michel Temer justificou a medida com a situação da segurança no Rio. O crime organizado praticamente assumiu o controle, disse Temer. É uma úlcera que se espalhou pelo país. O Rio, de fato, viveu semanas sangrentas.
Mas uma questão é por que os esforços do governo federal se limitam ao Rio de Janeiro. O número de assassinatos no Rio aumentou nos últimos meses. Mas as estatísticas nacionais mostram que, em 2017, esse índice foi significativamente menor do que em outros estados. Mais de um milhão de pessoas foram mortas no Brasil nos últimos 20 anos. Todos os anos, o número de assassinatos no país é maior do que o número de americanos mortos na Guerra do Vietnã. É óbvio que o problema de segurança do Brasil não se limita ao Rio de Janeiro.
É sensato supor que o principal objetivo do presidente Temer com sua ofensiva na segurança é deixar uma última marca em seu governo antes do início da campanha para as eleições presidenciais e parlamentares em outubro deste ano. Seu Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB) ainda não apresentou candidato. A legenda é ofuscada por casos de corrupção, e a popularidade de Temer despencou. Uma guerra poderia desviar a atenção disso – mesmo uma no Rio de Janeiro.
Süddeutsche Zeitung – O eterno imposto de canhões, 15/02/2018
É agradável viver com vista para o mar, mas também é caro. No caso do Rio, pode-se dizer com segurança: é absurdamente caro. É óbvio que imóveis excepcionais exigem preços excepcionais. A vida em bairros praianos como Copacabana e Ipanema é inacessível para muitos cariocas não só por conta do preço do aluguel, mas também porque as autoridades fiscais brasileiras exigem, por essas propriedades, muitas centenas de euros adicionais por mês.
Foro é o nome desse imposto. Em tradução livre: uma taxa extra para ter vista para o mar. Os moradores reclamam há décadas desse imposto, até agora sem sucesso. O Supremo Tribunal Federal acabou de confirmar, mais uma vez, a legitimidade dessa cobrança.
Isso é particularmente absurdo porque o foro não é fundado na perspectiva do privilégio, mas da segurança nacional. Para tornar isso compreensível, é preciso começar do começo. Em 1831, em todo o Reino do Brasil, uma faixa costeira de 33 metros de extensão foi atribuída à coroa. Dessa forma, o território deveria ser protegido do ataque de piratas e de potências navais inimigas – os 33 metros correspondiam ao alcance de uma bala de canhão.
Em 1889, a República foi proclamada no Brasil, e a faixa costeira se tornou propriedade do Estado. Qualquer pessoa que vive ou constrói nessa área continua pagando uma taxa de proteção contra possíveis invasões de piratas. Alguns chamam esse imposto de sobretaxa da vista para o mar, outros, de imposto de canhões.
Der Spiegel – Prefeito do Rio: Carnaval também não pode, 14/02/2018
O prefeito se divertiu de forma esplendorosa no Sambódromo, a arena do Carnaval no Rio de Janeiro. Ele foi fotografado ao lado de sambistas e dançarinas, acenou para o público e aproveitou todas as oportunidades para fazer marketing político. O único erro: o homem que confraternizou tão alegremente com os foliões do Rio na noite de segunda-feira se chama João Doria. Ele não é prefeito do Rio, mas de São Paulo.
Durante a "maior festa do mundo", os cariocas viram seu próprio prefeito, Marcelo Crivella, somente na primeira página do jornal O Globo: uma imagem tremida de celular mostrava-o no aeroporto. Ali, o refugiado do Carnaval fazia check-in rumo a Frankfurt.
Crivella nunca fez segredo de sua aversão ao Carnaval. Ele pertence à Igreja Universal, a segunda maior igreja evangélica do Brasil, que já o consagrou bispo. Para os evangélicos, o Carnaval é diabólico porque se entrega a um sincretismo alegre: muitas escolas de samba prestam homenagem a divindades afro-brasileiras.
O Rio não é apenas a capital do Carnaval, mas também uma fortaleza dos evangélicos. Em nenhum lugar os pentecostais têm tanta influência política e social como na cidade do Pão de Açúcar. Centenas de igrejas evangélicas alinham as ruas, especialmente nas zonas norte e oeste da cidade, que são densamente povoadas.
Mesmo na política, a procissão triunfal dos evangélicos está refletida: no Congresso, eles têm um lobby poderoso; no Rio, eles já emplacaram um governador; o reacionário deputado carioca Jair Bolsonaro, que aparece em segundo lugar nas pesquisas para as eleições presidenciais em outubro, pertence a uma igreja evangélica.
EK/ots

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